Odontologia: Um suporte fundamental no tratamento do câncer


Muito se fala hoje em dia sobre reabilitação bucal com implantes, lentes de contatos dentárias(restaurações), entre outros procedimentos, focando essencialmente na parte estética. A estética dental é de extrema importância para melhorar a autoestima e as relações interpessoais e profissionais, porém existem outras condições na cavidade bucal que também necessitam de atenção como a cárie, a periodontite (inflamação das gengivas e perda óssea) e, sobretudo o câncer bucal. 

Esta doença acomete um grande número de pessoas em todo mundo e quando não detectada precocemente, pode provocar expressivas alterações funcionais e resultar em tratamentos mutiladores com sequelas importantes na boca e na face, podendo até mesmo levar ao óbito. 

No Brasil, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), dentre os diversos tipos de tumores malignos, o câncer de boca é o quinto mais comum nos homens. De acordo com o Cirurgião Bucomaxilofacial Eduardo Favilla, especialista em cirurgias da boca e face, a falta de prevenção e alguns hábitos como o cigarro e outras formas de consumo de tabaco, além da ingestão de bebidas alcóolicas contribuem para o surgimento da doença. “A incidência do câncer de boca nos homens é maior do que nas mulheres, pois estes tendem a se preocupar menos com a saúde bucal, além de estarem mais expostos aos agentes que provocam a doença e normalmente só procuram o dentista quando apresentam algum desconforto maior na mastigação. As mulheres são mais atentas as alterações na cavidade bucal, bem como na saúde de uma forma geral e buscam com mais frequência o dentista para as revisões periódicas.”, relata Favilla, afirmando que o alto consumo do tabaco e do álcool são fatores que colaboram para que a doença se manifeste mais rapidamente. “Quem fuma tem 25 vezes mais chance de ter doenças na boca do que os não fumantes, o que pode piorar com a ingestão de bebidas alcoólicas. O cigarro e o álcool, além de potencializar o aparecimento de várias doenças, são os principais fatores de risco para o câncer de boca. Isso acontece porque o tabaco e o álcool causam alterações nas células da mucosa da boca e da pele, capazes de acelerar o crescimento das células cancerígenas, aumentando as chances de lesões e tumores”, diz o especialista que faz parte da equipe da Clinica Odontológica Dra. Walmira, no Leblon, Rio de Janeiro, um centro multidisciplinar de odontologia de ponta.

Segundo Eduardo Favilla, o câncer de boca envolve a região dos lábios e o interior da boca, podendo afetar as bochechas, língua e embaixo desta (assoalho de boca), o céu da boca (palato duro), as amígdalas na região da garganta. “Muitas vezes pode se formar embaixo de próteses, ficando escondido sob estas durante muito tempo. Em alguns casos, pode chegar à região da orofaringe ou se estender para o pescoço ou para face” diz o cirurgião complementando que um fato importante que deve ser enfatizado é queem alguns casos o câncer de boca na fase inicial não provoca sintomas, , o que muitas vezes torna difícil o diagnóstico em fase inicial da doença. 

Ainda de acordo com Eduardo Favilla, existem pontos que podem determinar a presença da doença. “Qualquer alteração na cavidade bucal deve ser investigada, o autoexame é muito importante, porém o exame minucioso da boca é difícil devido a presença de várias estruturas, saliva e diferenças sutis de coloração o que o torna limitado. Além disso, um bom exame da boca requer instrumental e iluminação adequados, o que normalmente o paciente não dispõem em sua residência. Desta forma é importante que o paciente consulte regularmente o dentista para realização de exames preventivos, assim como são realizados os ginecológicos e os de próstata, por exemplo. Quando o paciente perceber a presença de ferida, nódulo, lesão ou manchas avermelhadas, escuras ou esbranquiçadas na boca, e que não cicatrizaram em uma semana, o ideal é procurar um dentista imediatamente”, orienta o especialista.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do câncer de boca é realizado através da biópsia. O tratamento e o prognóstico do câncer bucal estão reconhecidamente ligados ao grau de comprometimento do paciente pelo tumor. Quando o diagnóstico é realizado nas fases mais precoces do seu desenvolvimento e o tratamento é realizado adequadamente a perspectiva de sobrevida pode ser bem otimista e a cura pode ocorrer. “O câncer bucal é uma doença de consequências graves, mas quando é diagnosticado nos estágios iniciais, a chance de cura chega a quase 80%. Nos casos mais avançados pode ocorrer o comprometimento de outras áreas importantes da face, ocasionando também graves problemas estéticos que por sua vez, contribuem para o afastamento da pessoa do convívio social “, esclarece Favilla.

TRATAMENTO

O tratamento pode ser feito principalmente através de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Abaixo, Eduardo Favilla responde as principais questões sobre o tratamento do câncer de boca: 

Como o dentista pode ajudar na detecção e no tratamento do câncer de boca?

O dentista é de fundamental importância para a detecção precoce do câncer de boca, pois trabalha diretamente na cavidade bucal. Este pode, no exame clínico e radiográfico, identificar qualquer lesão suspeita na cavidade bucal. Ao suspeitar de alguma anormalidade ele poderá encaminhar para um estomatologista /patologista ou cirurgião bucomaxilo, caso não se sinta apto a fazer o diagnóstico preciso. 

Por que o paciente deve consultar um dentista antes de iniciar o tratamento oncológico?

A cavidade bucal é um dos locais do organismo com a maior quantidade de bactérias. No entanto, em um paciente com boa imunidade e com boa higiene bucal estas bactérias não causam infecções graves, as quais ficam normalmente restritas à boca. No paciente que irá iniciar a quimioterapia, ou que será submetido ao transplante de medula óssea e apresentará queda de imunidade durante o tratamento, estas bactérias podem ocasionar infecções mais sérias, não só localizadas na cavidade oral, mas em todo o organismo. Por este motivo, o paciente que será submetido a quimioterapia e radioterapia deverá passar por uma avaliação odontológica rigorosa antes de iniciar o tratamento e evitar, minimizar ou tratar as complicações frequentes destes tipos de terapia que podem ocorrer durante ou após do tratamento. Dentre as complicações mais comuns da radioterapia e quimioterapia citamos a mucosite, infecções por fungos e bactérias, cáries de radiação, diminuição da produção de saliva, alterações do paladar, osteorradionecrose dentre outras.

Quais são as principais alterações que surgem na boca durante o tratamento oncológico? 

Depende do tipo de tratamento que será realizado. Durante a quimioterapia, dependendo da droga utilizada, podem ocorrer alterações de paladar, xerostomia (boca seca), mucosite (feridas na boca) e infecções locais ou generalizadas de origem bucal.

Na radioterapia na região de cabeça e pescoço as alterações na quantidade e textura da saliva são as primeiras alterações, seguidas por alterações no paladar (disgeusia), mucosite, dor para engolir (disfagia), infecções por fungos/ bactérias, lesões traumáticas pelo inchaço ocasionado pela radioterapia, cárie de radiação e uma das mais temidas a osteoradionecrose.

Em alguns casos o oncologista pode achar necessário a utilização de medicamentos da classe dos inibidores da reabsorção ósseaosteoclática, como o ácido zelodrônico (Zometa®) na prevenção de metástases ósseas. Esses medicamentos apresentam um risco real de causar osteonecrose dos maxilares, principalmente se houver necessidades de extrações dentárias no pós tratamento

Quais sãos os principais cuidados que se deve ter com a boca antes e durante o tratamento oncológico? O que deve ser evitado?

O cuidado com a cavidade bucal antes e durante o tratamento oncológico visa não só o bem estar do paciente, mas também uma boa condição de alimentação por parte deste, imprescindível para sua recuperação.

Antes de iniciar o tratamento oncológico uma adequação da cavidade oral é essencial, como profilaxia (remoção de cálculos), remoção de cáries e de pontos de trauma. Durante o tratamento, a higiene da boca por parte do paciente ou de seu cuidador, deve ser orientada pelo dentista. Nos casos de sangramento abundante de gengiva a escovação pode ser auxiliada por colutórios sem álcool. Os alimentos muito ácidos e muito condimentados também deverão ser evitados para diminuir a agressão à mucosa.

A laserterapia é indicada no tratamento e prevenção da mucosite que acomete os pacientes submetidos a quimioterapia e radioterapia. A aplicação de Laser pode evitar o aparecimento da mucosite, além de diminuir a extensão, frequência e gravidade desta complicação. Este terapia de suporte é considerada fundamental para os pacientes submetidos a tratamento oncológico, fazendo com que estes superem esta fase com menos desconforto.

Serviço:
Clínica Odontológica Dra. Walmira

Endereço: Rua General Venâncio Flôres, 305 - Sala 510 - Leblon 
Telefone: (21) 3875-9909

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